Relatando um pouco das atividades que vão se desenvolvendo aqui pela FEE, esta semana realizamos uma que é particularmente interessante para o nosso NDR.
Alguns de nós, pesquisadores recém entrantes, decidimos organizar, há alguns meses, uma série de seminários com o objetivo de nos apropriar do importante acúmulo de conhecimento sobre a economia do Rio Grande do Sul produzido na Fundação. No último encontro, chamei a iniciativa de História do Pensamento Feeano, em divertida alusão à tradicional disciplina das Faculdades de Economia.
De fato, a "HPF" e a Formação Econômica do Rio Grande do Sul (FERGS???) não poderiam ser estudados em melhor lugar do que na instituição que formou alguns dos mais qualificados quadros acadêmicos e políticos do RS e do Brasil (vide a primeira mulher Presidente da República!) estudando este objeto há mais de 37 anos.
O tema do seminário realizado na última terça-feira, dia 01 de fevereiro, foi o volume II da publicação clássica "25 anos de Economia Gaúcha", de 1977. Neste volume, são abordados os "aspectos demográficos e suas relações com o desenvolvimento econômico do Estado". Faço aqui uma pequena sinopse (acompanhada de algumas opiniões pelas quais me responsabilizo) do que é abordado no trabalho, com base em um documento que eu e o colega Vanclei Zanin, responsáveis pela apresentação do dia, preparamos para os participantes. Recomendo também a
apreciação feita pelo colega Fernando Lara do NEPE, propondo um debate que vai além do conteúdo estrito do volume.
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O volume analisa o período entre 1940 e 1970 e é dividido em duas partes: a primeira relaciona o comportamento demográfico espacial com as mudanças na estrutura produtiva do Rio Grande do Sul. A segunda foca apenas na evolução demográfica do Estado em seus diferentes aspectos. A motivação dos autores é a forte relação aparente entre padrões demográficos e produtivos, sem que se possa determinar com precisão a direção causal entre os fenômenos.
As críticas ficam pela simplicidade dos métodos estatísticos utilizados (puramente descritivos), o que em parte se justifica pela falta de recursos computacionais da época; e a ordenação dos aspectos sócio-demográficos na parte II, o que torna a leitura um pouco repetitiva. ao retomar questões apresentadas na parte I. Como grande mérito está o levantamente de uma série de hipóteses a serem estudadas e testadas, abrindo um enorme campo de investigação sobre a evolução conjunta das dimensões sócio-economico-demográficas do Estado.
Um padrão interessante do estudo é que, mesmo atualizando alguns dados até o presente, um dos períodos de mais acentuada transformação da estrutura produtiva e demográfica do RS é os anos 1960 e 1970, quando a taxa de urbanização do Estado salta de 45% para 68% da população, ao que se soma uma redução da taxa de crescimento vegetativo da população a um nível inferior ao da média nacional. Ainda no período, há o esgotamento da fronteira agrícola, uma fase de modernização acentuada da produção rural com grande êxodo rural e saldo migratório negativo com o resto do país. É o período da "conquista do Oeste" pelos gaúchos e quando 80% do crescimento populacional da região metropolitana de Porto Alegre provém destes movimentos intra-regionais. A participação da renda agrícola no total do Estado aumenta no período, o que leva a crer, pela modernização e expulsão do campo, que é um aumento concentrado da renda.
Em 1970, aproximadamente 1/4 da população gaúcha já vivia em cidades diferentes de sua naturalidade e 10% vivia em outros Estados. Não apenas a população veio para os centros urbanos, como a urbanização chegou ao interior: em 1950 eram apenas 92 municípios no Rio Grande do Sul, contra 232 em 1970 e 497 em 2010.
Apesar do paulatino envelhecimento da população do Estado, com o crescimento natural que transitava para o estacionário (problema recentemente abordado pelo colega
Pedro Zuanazzi), a população gaúcha ainda podia ser considerada jovem no ano de 2000, com 26% de menores de 15 anos e apenas 7% maiores de 65 anos. Os encargos econômicos, representados pela razão entre dependentes e população economicamente ativa, reduziram substancialmente de mais de 80% em 1970 para cerca de 50% em 2000.
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